sábado, 25 de fevereiro de 2023

Não entres nessa noite acolhedora com doçura - Dylan Thomas

Não entres nessa noite acolhedora com doçura

Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Pois a velhice deveria arder e delirar ao fim do dia;
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.

Embora os sábios, ao morrer, saibam que a treva lhes perdura,
Porque suas palavras não garfaram a centelha esguia,
Eles não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os bons que, após o último aceno, choram pela alvura
Com que seus frágeis atos bailariam numa verde baía
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

Os loucos que abraçaram e louvaram o sol na etérea altura
E aprendem, tarde demais, como o afligiram em sua travessia
Não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os graves, em seu fim, ao ver com um olhar que os transfigura
Quanto a retina cega, qual fugaz meteoro, se alegraria,
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

E a ti, meu pai, te imploro agora, lá na cúpula obscura,
Que me abençoes e maldigas com a tua lágrima bravia.
Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.

                                Dylan Thomas 


hoje escrevi 7 vezes uma mensagem e a apaguei, arrependendo-me de enviar antes mesmo do envio. acabei não mandando a bendita mensagem, e para um ariano igual a mim, comedimento nunca foi meu talento, talvez esteja ficando velho e aprendendo a medir as coisas, calculando se a energia do querer resulta em alegria ou em desapontamento. 

acho melhor entrar nesta madrugada nada acolhedora com doçura... 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Cravo e extraio estrelas nuas de tuas constelações cruas

 Cavo e extraio estrelas nuas

De tuas constelações cruas

Abre-te, Sésamo

Brado ladrão de Bagdá
-
Waly Salomão



ter ideias de escrever livros é bem mais divertido do que realmente escreve-los, escrever tem muitas implicações e muitas delas não são nada positivas, se pensarmos bem, assim como no futebol, é preciso muitos jogadores de várzea para um atleta de ponta, que tira ouro de sua arte, fazendo de todas as consequências da exposição aturáveis, contornáveis.

hoje, particularmente, recordava todos os poemas que escrevi que já me causaram problemas, pode ter certeza, foram alguns, um número considerável para algo aparentemente tão inofensivo. esses poemas  foram motivos pra nunca ter colocado pra frente um livro que tive a ideia de fazer sobre as relações livres. pueril. 

seria tão bom se a nossas ideias resistissem tanto quanto resistem nossos problemas, talvez eu continuassem achando interessante as que tive e passasse a realizar pelo menos uma parte delas, 

o que já seria muito.

ps: estou lendo Sophia de Mello Breyner, talvez volte a postar as minhas pequenas resenhas de livros de poemas por aqui, o propósito original deste blog. 



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff

"e nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff"
Manuel Bandeira 



reparei que os espaços de escrever tem diminuído, na internet e na minha vida. teve um tempo que eu ainda contava com os textões de Facebook, algo que me rendia muitas curtidas e compartilhamento, proporcionando à minha escrita uma serventia imediata, um poder de comunicação instantânea prometida pelos gênios do vale da morte do silício. 

ao que tudo indica a promessa tinha um prazo de validade.

isso não chega a ser uma dor total, quando inventei de entrar no mundo dos blogs, e esse é apenas um dos vários que criei para um fim totalmente diferente do qual estou fazendo uso agora, tinha meus 17 anos. 

ser lido, entendido, era mais do que urgente, era um sonho. agora, quando muito, parece-me um luxo. 

espero que nenhum jovem escritor leia isso e desanime, temos a mania absurda de querer destruir os sonhos adolescentes com nossas frustrações adultas, 

espero que isto não soe assim, 

até mesmo porquê, no finzinho das contas, a única coisa que tenho de verdade é a minha capacidade de escrever meus textos e poemas e lembrar dos textos e poemas dos outros, que vez em sempre recito mentalmente pra mim mesmo. 

é nessa corda que tenho conseguido me agarrar à vida.